domingo, 22 de agosto de 2010

Sorte Molhada

Um cabelo úmido e enrolado. Um salto alto agulha sete centímetros. Uma calça justinha. Uma blusa de cetim. Uma caixa decorada de papelão envolta em um plástico. Uma mochila transversal pesada. Agora, some tudo isso e arremesse para fora do ônibus debaixo de uma chuva torrencial em pleno cruzamento (ou piscina olímpica) principal da cidade.

A pobre coitada olha para todos os lados e nenhum maldito dono de nenhuma maldita loja havia colocado nenhum maldito toldo daquele lado infeliz da calçada. Só restava uma saída: nadar até o outro lado da rua, visto que lá havia um maravilhoso toldo (com goteira, mas isso não importa!).

A infeliz olha para os dois lados da rua e deseja poder abrir as águas. Como Deus não a dotou deste talento útil para grandes chuvas, ela imitou Camões: levanta a caixa com uma mão e com a outra nada corajosamente até o toldo encantado. Apenas um pensamento permeava sua mente: por que eu não trouxe aquela porcaria de guarda-chuva?

Chegando debaixo do toldo, ela pôs-se a conferir se sua caixa estava molhada. Por algum milagre ou, talvez, porque o plástico não estava furado, a caixa não sofrera danos. Seria ótimo se fosse apenas isso, mas perderia totalmente a graça. Como todo bom pobre, a criatura precisa caminhar mais três quarteirões (sendo dois de subida) para pegar o segundo ônibus até o seu destino.

Por ser muito sortuda, surge, vindo em direção ao toldo, um senhor... com um guarda-chuva, em direção a essa heroína. Seus olhinhos brilham de alegria com a feliz possibilidade de não perder o ônibus. Então, ela se dirige ao senhor e diz:

- O senhor poderia me levar até o centro com seu guarda-chuva?

O homem olha espantado aquela criatura naquele traje, com uma caixa e ensopada de chuva.

- Claro! Pode vir – diz o homem.

A garota e o homem se enfiam debaixo do guarda-chuva e começam a travar uma batalha épica contra a água que escorre sarjeta abaixo.

- Pra quê essa caixa?, pergunta o senhor.

- Ah! Isso aqui! Eu vou agora pra faculdade e vendo bijuterias no intervalo... pra fazer uns trocos, sabe?

E, assim, foram caminhando e conversando. À medida que andavam, a pobre ficava mais ensopada, uma vez que o guarda-chuva fazia goteira em suas costas e as cachoeiras sarjetais lhe inundavam a sandália.

Próximo ao ponto de ônibus, a coitada andava feito uma criança de sete anos com o salto alto da mãe, já que o excesso de água lhe tirava a estabilidade para andar. Chegaram ao ponto. Ela agradece e ele vai embora rindo da situação.

Ali está ela: tremendo de frio feito sapo cururu; tremendo de dor nos pés; tremendo o queixo; tremendo a alma de ódio por ter deixado a bosta do guarda-chuva dormindo em casa.

O ônibus chega e ela espera (debaixo de chuva, novamente) para entrar. Finalmente, ela entra e senta. E vai por uma boa meia hora de caminho reto até o destino. Chegando lá... mais chuva!

Ela corre até a entrada da faculdade e, com esforço heróico, chega ao banheiro. Enxuga os pés, o plástico da caixa, o cabelo desmoronado e a alma com o confortável papel-lixa do banheiro.

Ao entrar na sala, uma cadeira pisca para ela. Sem perder tempo, a exausta senta-se.

Uma amiga pede para ver os brincos, querendo comprar um. Então, a necessitada pensa: o esforço não foi em vão... mas seria melhor se tivesse lembrado do guarda-chuva.

A cliente vê, escolhe, prova, pede conselho e, por fim, diz qual levará e separa o dinheiro. Uma nota alta. Precisa de troco.

A realizada se curva para pegar a bolsinha de dinheiro na mochila. De repente, solta um sonoro “merda”. Dentro da mochila, despertando de seu sono de beleza, estava o guarda-chuva.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sarau Solidário - Agosto

É besta ou só se faz?

A capacidade do ser humano em fazer coisas tão inusitadas, tão estúpidas, tão escatológicas, tão... imbecis de fato que... precisam, no mínimo, passar para a dimensão ficcional. O que fazer numa hora dessas? Tem gente que se mata; tem gente que ri; tem gente que escreve.


Data: 21/08/2010

Horário: 19:30

Local: Teatro Paulo Roberto Lisboa - Centro Cultural Matarazzo

(Rua Quintino Bocaiúva, 749 - Vila Marcondes)


Presidente Prudente - SP


Entrada: 1 kg de alimento não perecível


Estão todos convidados para mais este evento literário da Associação Prudentina de Escritores.


Divirtam-se!!!